
sismo sera
marta machado
10/30/20242 min read


Os bebés e crianças do sul de Portugal estão entre as populações mais vulneráveis em caso de um grande sismo de alta magnitude. Centenas de creches e infantários ocupam edifícios antigos, muitos dos quais poderão colapsar ou sofrer danos graves quando um grande terremoto ocorrer novamente. Especialistas em Engenharia e Geologia apelam ao Governo para criar, com urgência, um plano de reforço sísmico para os espaços que acolhem crianças pequenas. “É imprescindível um programa nacional de reforço das infraestruturas em infantários e escolas”, afirma Mário Lopes, professor no Instituto Superior Técnico (IST) e doutorado em Engenharia Sísmica pelo Imperial College, em Londres.
A situação também afeta as escolas públicas, especialmente no Algarve, onde um levantamento técnico sobre a rede escolar revelou um cenário preocupante. A maior parte das escolas é vulnerável e muitas localizam-se em áreas suscetíveis de serem afetadas por um tsunami, que poderá seguir-se a um grande sismo com epicentro no mar. Em Lisboa, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) analisou 28 escolas por solicitação da câmara municipal, recomendando reforços sísmicos em 18 delas para proteger a vida de alunos e professores. No entanto, o impasse entre a autarquia e o Governo quanto ao financiamento impede a realização das obras necessárias.
Grande parte dos hospitais públicos também é estruturalmente frágil em face de um sismo de grande intensidade. Os hospitais centrais de Lisboa – Santa Maria e São José – são particularmente vulneráveis. Recentemente, especialistas alertaram o Tribunal de Contas para o facto de o novo Hospital de Todos os Santos, em construção, não ter sido inicialmente projetado para operar em segurança durante um sismo, devido à ausência de isolamento de base, uma tecnologia já comum em países como Turquia, Estados Unidos e Japão. Numa decisão inédita, os juízes Nuno Coelho e Miguel Vasconcelos determinaram a correção do projeto para garantir a segurança sísmica.
O LNEC também avaliou a situação dos edifícios residenciais, concluindo que, na área da Grande Lisboa, cerca de 600 mil pessoas vivem em construções não preparadas para resistir a um sismo de grande intensidade. Segundo o economista António Nogueira Leite, um terremoto de proporções semelhantes ao de 1755 causaria atualmente prejuízos equivalentes a um ano de PIB.
Especialistas criticam a ausência de medidas de reforço sísmico no PRR português, que destina 700 milhões de euros a melhorias energéticas em edifícios, mas não aloca recursos para reforço estrutural. “Apenas melhorar a eficiência energética é insuficiente, pois um sismo pode destruir tudo, e perderíamos todos os investimentos”, alerta Carlos Sousa Oliveira, primeiro doutorado português em engenharia sísmica pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.